Histórias da construção da ferrovia
Inauguração da estação
Era um domingo, dia 13 de maio de 1900, quando ao meio dia um trem partiu da estação de Argolas, em Vitória, com destino a Estação Marechal Floriano, na Vila do Braço do Sul. Na comitiva estava o governador José Marcelino Pessoa de Vasconcelos, que fazia sua última viagem já que no dia 22 do mês corrente entregaria seu cargo. O trem chegou no seu destino às 15, 05 minutos, para inaugurar a nova estação .Era um dia chuvoso, mas segundo jornais, não ofuscou a festa. A partir desta data tudo começou a fica diferente, a Vila perdeu o nome , passando a chamar de Estação de Marechal Floriano.
Com a inauguração da estação, começaram a surgir os primeiros ferroviários. O primeiro agente de estação, foi Alcino Fundão. Na época era praticante de Estação. Não residia na vila, já que a Casa do agente da estação, que começou a ser construída em 1899.Conforme registro do Jornal Estado do Espírito Santo de 06/06/1899, naquela ocasião não estava pronta. Somente com a venda da ferrovia para a The Leopoldina Railway Company Limited em 1907, onde a obra foi finalizada. Em 1904, Alcino era agente de estação de 3ª classe. Em 1906 foi destinado a estação de Argolas. Em 1907 foi promovido a agente de 2ª classe. Com a venda da ferrovia para os ingleses, Alcino exerceu vários cargos no governo estadual. Em 31/08/1927 foi nomeado almoxarife efetivo da diretoria de água a e esgoto. Casado com Adília Vieira. A esquerda Almanak Laemmert 1905 – Hemeroteca Digital NA.
Ferroviários
Sobre os antigos ferroviários, sabemos muito pouco . Conforme registros de jornais de 1906, , a estação era a administrada pelo praticante de estação, já que Alcino foi transferido para a capital. Anexos registro do Jornal oficial de 09/011/1905, constando o efetivo da Estrada de Ferro Sul Espirito Santo. Jornal Oficial de 23/07/1907 constando regulamento referente ao cargo de agente da Estação da estrada Ferro Sul Espírito Santo Evidencias: Arquivo nacional - RJ.
Com a venda da ferrovia para os ingleses, foi quando chegaram os primeiros ferroviários. A casa do agente foi reformada para moradia do agente. Porém não consegui informações sobre estes primeiros ferroviários. A direita Relatório de 1911, publicado pelo Ministro Dr. Francisco Sá. Ministério da Viação e Obras Publicas –Decreto de nº 6.4.56 de 20/04/1907, quando a The Leopoldina Railway Company Limited, incorpora a Estrada de Ferro Sul Espirito Santo, que gozara direito por 45 anos. Empresas que estes empregados trabalharam durante mais de cem anos No período da Estrada de Ferro Sul Espírito Santo, a evidências do agente e Alcino e José Luíz, guarda-chaves. A partir de 1907, The Leopoldina Railway Company Limited. No final dos anos quarenta a Companhia teve muitos problemas, com dois grandes desastres, um no Estado do Rio, no rio Tanguá, com quarenta mortes. Outro no final do ano, no Espirito Santo, conhecido como desastre do Engano. Além dos acidentes, atrasos nos pagamentos dos empregados, atraso nos trens de passageiros, sucateamento de maquinários. Mediatamente a todos estes problemas, presidente Eurico Gaspar Dutra encampou-a em 20 de dezembro de 1950, a lei nº 1.288 autorizava a implantação definitiva da ferrovia que passou a chamar Estrada de Ferro Leopoldina (EFL), ficando sob a jurisdição do Ministério da Viação de Obras Públicas. Com a nova empresa, os salários melhoram, obtiveram outras vantagens, o salário em dia, e um forte sindicato. Em 1956, os empregados da Leopoldina, tinham melhores, do que os da Cia. Vale do Rio Doce. O Jornal Folha Capixaba de 16/06/1956, os ferroviários da VALE, pedindo equiparação de salários, como os da Leopoldina. Juscelino Kubitschek em 16 de março de 1957, cria por meio da Lei 3.115, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) era caracterizada como empresa de economia mista. Consolidando 18 ferrovias regionais, possuía administração indireta do Governo Federal e era vinculada, funcionalmente, ao Ministério dos Transportes. Finalmente em 14 de junho de 1996, a linha Centro-Oeste, foi vendida em leilão por R$ 316,9 milhões para a Ferrovia Centro Atlântica S.A, entrando em operação em 01 de setembro de 1996. Em 2011 foi criado a VLI (Valor da Logística Integrada), reunindo todos os ativos de logística da Vale, inclusive a Ferrovia Centro Atlântica S.A. Abaixo recorte de Jornal Folha Capixaba e Foto do ano de 2004, a estação com a locomotiva da Ferrovia Centro Atlântica.
Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários
Em 24 de janeiro de 1923,foi promulgada a lei federal que fez dos ferroviários, no setor privado, os precursores do direito a um pagamento mensal durante a velhice. Conhecida como Lei Eloy Chaves, a norma é considerada a origem da Previdência Social. A Lei Eloy Chaves obrigou cada companhia ferroviária do país a criar uma caixa de aposentadorias e pensões (CAP), departamento incumbido de recolher a contribuição do patrão e a dos funcionários e pagar o benefício aos aposentados e pensionistas. Os empregados a Leopoldina criaram a Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários.
Regalias
. Vitaliciedade que tem mais de 10 anos de serviço. Não podendo ser demitido , enquanto bem servirem.
. Aposentadoria que tiver 50 anos, ou 30 anos de serviços.
. Pensão a viúva e filhos menores.
. Pagar ordenados, quando o servidor for prestar serviço militar
. Os ferroviários pagarão mensalmente 3% do seu ordenado, e uma joia dividida em quatro prestações.
. As empresa concorrerão com 1% de sua renda bruta.
Os ferroviários vibraram com este novo sistema, com uma adesão de quase 100% dos empregados. Porém a Leopoldina Railway não aceitou, mas teve que cumprir a lei. Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários, em outubro de 1923, saiu na frente, convocando eleição para administrar. A direita O Jornal do Brasil – RJ de 31/10/1923.
Getulismo
Assim era chamado por seus simpatizantes de "pai dos pobres", pela legislação trabalhista e políticas sociais. Antigos ferroviários que conheci, tinham uma verdadeira paixão por este politico. Lembro-me bem, seu Manoelzinho Falcão, com uma revista O Cruzeiro, onde tinha uma grande reportagem, sobre a morte do Getúlio. Seus olhos brilhavam, ao falar deste grande presidentes, Falava com orgulho, foi o maior presidente. Na venda do seu Celso Stein, reuniam-se para debater política e tomar aquela cerveja Brahma chopp. Em 1964 tinham esperanças de que João Goulart continuasse no poder. Em 18 de julho de 1967, quando faleceu o Presidente Castelo Branco, o agente Antonio José da Penha, soltou foguetes para comemorar a morte do militar. Tinham um sindicato ativo. Os ferroviários participaram da greve de 1964.Mesmo com forte repressão e a intervenção do governo nos sindicatos, a greve durou duas semanas. Acabaram concedendo um reajuste de 63%. A direita acima, O jornal de 19 de janeiro de 1961. O mantenedor é responsável pela manutenção da linha e demais atividades que garantam o bom funcionamento do tráfego ferroviário. Antigamente era uma profissão que dependia de muitos esforços. Para deslocar, o trolley era movido a força humana. Usavam varas de bambu, com um ferrolho na ponta. Para deslocar em direção a Rio Fundo, tinha uma subida. Para deslocar para Domingos Martins, a volta também era subida. Tudo era manual, enxadas, picaretas, marretas e famoso arco de pua, para furar o dormente, para pregar o trilho. Sem falar o peso do trilho, que tinha em média, seis metros. A refeição era feito em casa, levavam em marmitas de alumínio, de cinco repartições. Até 1955, a garagem do trolley e a casa do feitor ficava na Barra do Rio Fundo, hoje Posto Ypiranga. Quem residia na vila de Marechal, tinha que deslocar até a Barra. Trabalhavam no regime de semana inglesa, onde sábado e o domingo, tinham como repouso. Abaixo Foto dos anos sessenta. Empregados da RFFSA, que davam manutenção a linha. Foto de Nair Borgo.
Momentos Difíceis Para os Conservadores de Linha
Eram nas ocasiões de desastres ferroviários e de períodos prolongados de chuvas torrenciais. Não havia descanso, pois tinha que por os trilhos no seu devido lugar, para dar continuidade ao tráfego. Foram inúmeras vezes que tiveram situações. Em 15 de março de 1906, quando uma chuva torrencial, entre as estações de Marechal e Santa Isabel ( hoje Domingos Martins), onde a chuva. Trabalharam por três dias e três noite, sob o comando do mestre de linha Joao Dionysio de Sousa. Neste mesmo ano aconteceu outro acidente com barreira, onde a circulação de trem ficou parado por três meses. Em abril de 1926 , uma tromba d'água, onde o trecho entre Marechal e Domingos Martins, foi totalmente destruído. Em abril de 1937, aconteceu um grande estrago. Uma tromba d'água entre Viana e Marechal, tudo foi destruído. A Leopoldina teve que contratar mais de 400´pessoas, para colocar os trens em circulação. Neste período a empresa colocou em circulação, um trem entre Marechal e Cachoeiro do Itapemirim, O trem partia de Itapemirim às 12:34. De Marechal, as 07:22 A direita o Jornal Diário da Manhã de 23/04/1937. relatando as causas da interrupção do tráfego. Nesta reportagem o presidente da Leopoldina , faz um elogio aos trabalhadores, que deram de tudo para colocar os três em circulação. A foto é de pontilhão, sitiada a três quilômetros estação de Marechal, onde podemos ver a linha suspensa e caída no barranco. Foto original, pertence a Casa da Cultura de Campinho.
Enchente de 1960, foi outro grande prejuízo para Rede Ferroviária Federal (RFFSA), na ocasião, era a responsável pela administração deste trecho. Foram meses para recuperar a linha entre Vitoria a Cachoeiro do Itapemirim. Não podemos de deixar de citar outro acontecimento ferroviário, que acontece na véspera de natal de 1950. Um grande acidente ferroviário, perto da estação de Engano, município de Alfredo Chaves, na altura do km 539. Onde houve mortes e destruição total de equipamentos e da linha. Revista da Semana – RJ – 13/01/1951. Além da manutenção, os trabalhadores da Leopoldina, tiveram que retirar corpos, que estavam entre as ferragens.
O Fim das ferrovias
Com a política de industrialização continua do presidente Juscelino Kubitschek, que assume em 1956 e elege a indústria automobilística como catalisador de seu plano de desenvolvimento Com a erradicação de ferrovias, durante o governo militar, de uma politica voltada para rodovias, as ferrovias começaram ser sucateadas. Isto aconteceu com o ramal de Vitória a Cachoeiro. Com isto começamos a perder o apito vibrante da Mikado, saindo da estação. O glamour do agente de estação, com seu impecável uniforme. Do passageiro vindo do Rio de Janeiro, com suas malas recheadas de novidades, e até a mesa farta da Morena , com seus bolinhos e café. O guarda-chaves aposentou. No início dos anos oitenta, partia o último trem para Cachoeiro de Itapemirim. Ao longo dos anos, o a memória das linhas férreas, começaram a serem esquecidas. Hoje só temos lembranças dos antigos ferroviários. Muitos já se foram. Aqueles que permanecem, de cabelos brancos, nos contam suas histórias, orgulhosos de serem ferroviários, profissão relevante, na época. Eram tratados com muito respeito e prestígio. A ferrovia provavelmente não vai mais existir, nesta região, mas a história destes ferroviários, jamais será esquecida.
Poema do Ferroviário
O, não deixeis morrer,
Definitivamente ,
O grito lancinante das locomotivas,
Dentro da noite !
No silêncio da treva,
Quando te revolves insone,
No teu leito solitário,
È ele que te acorda
Para as distâncias impossíveis,
Quando te debates,
Esmagado pela solidão noturna,
Ao desamparo da tua descrença.
No velho drama, da angústia metafisica,
Em face da razão geométrica,
É o gemido humano das locomotivas
Que te acena pasárgadas e Schangri-Lás
Para a inútil evasão de ti mesmo.
Se te envergonhas da tepidez de teus agasalhos,
Por saberes que há tantos corpos miseráveis
Estirados no chão nu,
Esse apito na escuridão, é o clarim que te anuncia
a madrugada do mundo melhor de amanhã.
É ainda ele quem te leva
Para essas ilhas do amor recíproco,
Afloradas no vago mar do teu sonho.
.
Escutai, pois,
Ó técnicos da eletrificação,
e perdido clamor do poeta terrestre !
Escutai e atendei,
Imitando-o no adeus de vossas Diesel Elétricas !
E não deixeis morrer,
De todo para o sempre,
O grito lancinante das locomotivas,
Dentro da noite...
Do livro “ Cântico dos Pioneiro” do farmacêutico J. Melo Macedo, de Tanabi, São Paulo;
Evidências; Gazeta da farmácia – 1963. Arquivo Nacional – RJ.
Laurentino Bandeiro
Um dos primeiros empregados da antiga Leopoldina. Nasceu na vila do Braço do Sul, em 03/06/1898, filho de José Bandeira da Vitória, falecido em 05 de maio de 1925 e Braulina Maria do Rosario, nascida em 05 de julho de 1883. Em 20 de outubro de 1953 casou no cartório de Araguaia com Ana Maria de Oliveira, nascida em 18 de junho de 1906, na vila de Marechal Floriano, filha de João Portinho de Oliveira , falecido em 04 de abril de 1923 e Dorotheia Maria Oliveira, falecida em 10 de fevereiro de 1921. O comerciante Celso Stein, conhecia muito bem a historia deste casal. Com a morte de Laurentino, Celso administrou a vida da Ana, muito conhecida em Marechal como “Aninha Bandeira”. Laurentino começou ainda jovem a trabalhar na ferrovia. Conheci este senhor, que comprava na venda do meu pai. Usava um chapéu de palha, de abas longas. De fala mansa. Era um senhor de estatura alta e forte. Aos domingos sentava num velho banco da estação com seus amigos, para contar historias. Faleceu em 09 de julho de 1957, com 59 anos, sendo a causa da morte, colapso cardíaco. Já estava aposentado. A direita registro de casamento de Laurentino APEES.
Feitor de Turma Ferroviário
Era responsável pela manutenção da linha, como troca de dormentes, trilhos, limpezas de bueiros. Andava sempre na frente do trolley. Carregava uma pasta de ferro, onde continha documentos de apontamentos.
Foi feitor por muitos anos na antiga Leopoldina e RFSSA. Nasceu em 28 de agosto de 1908, na Barra do Rio Fundo, filho de Francisco Nascimento e Joanna Conceição Em 02 de julho de 1932 casou no cartório de Rio Fundo com Maria Pereira da Silva, nascida em 07 de setembro de 1904, em Viana, filha de Emidio Silva e Vicência Maria. Benicio faleceu em 26/08/1964, com 56 anos.
Guarda-Chaves
O primeiro registro que temos foi José Luís, da antiga Sul Espírito Santo. Em 1918 temos Francisco Paulo, empregado da Leopoldina Railway Company Limited. Guarda- chaves numa estação fazia de tudo. Desde de limpar a estação, pátios, engraxar as chaves, fazer manobras, controlar entradas e saídas de mercadorias. Ainda fazer serviços na casa do agente. Naquela época as locomotivas eram tocadas a lenha. Quando uma composição chegava na estação com pouca lenha, era guarda-chaves que tinha que abastecer. Tinha um tempo curto, para colocar na máquina, no mínimo, um metro cúbico de lenha. A direita, anos setenta, estação com desvio para a rua, na Praça José Henrique Pereira.
Continua [... ]