terça-feira, 30 de maio de 2023

PROSAS FLORIANENSES - I


Aqui, vamos relembrar um pouco de como era o cotidiano Florianense. São ótimas histórias. Simples, mas com um conteúdo maravilhoso. Espero que todos apreciem.

            Começo com o relato do nosso querido Jair Littig, falando de uma das paixões Florianeses, que é o América Futebol Clube...  



MAIO VERMELHO E BRANCO

            Era uma segunda-feira, 27 de maio de 1957. As lâmpadas da rua da estação, já estavam acesas. No Bar América, numa pequena mesa, estavam sentados José Henrique Pereira (Piaba), dono do bar, Adayr Guerra, topógrafo do D.N.E.R. e Marijalma Faria. Comemoravam a vitória do Marechal Floriano Futebol Clube, que excursionou até a vila de Paraju para jogar contra o Brasil, time local. Neste jogo o time de Marechal estreava sua nova camisa vermelha e branca, calções e meiões, tudo novinho, doado pelo D.N.E.R. através do Adayr. O América perdia no primeiro tempo de 3 a 0. No segundo tempo o técnico Adayr fez mudanças, onde reverteu o resultado final para 8 a 3. Nena fez 3 gols.

            Depois de tantas cervejas, Piaba sugeriu fazer uma diretoria para o Marechal. E nesta conversa ele e Marijalma indicaram o topógrafo como presidente. Ele aceitou, mas exigia que a partir daquela data, o time de Marechal passaria a ter um novo nome "América Futebol Clube de Marechal Floriano". Assim nasceu o América. Três dias depois, 30 de maio, quinta-feira, feriado religioso estadual, dia de Ascensão do Senhor, o América faria o seu primeiro jogo. Era contra o time de empregados da Leopoldina, conhecido como Transporte Futebol Clube de Argolas.

            Tudo foi organizado para este jogo. Dona Maura, esposa do Faria, primeira torcedora do América, confeccionou as bandeirolas. O campo foi marcado dentro dos padrões com linha de cal, já que anteriormente usava pó de serra. Foram retiradas as barbas-de-bode (capim). Antônio Nalesso mandou fazer os bancos de casqueiro. As balizas de pau roliço, foram pintadas. Até chuteiras foram reformadas na sapataria do seu Nicolau Marques. Tudo estava preparado para a grande estreia. Na quinta-feira, o trem das 11:40 chegou no horário. A delegação do Transporte foi direta para o hotel do seu Quincas, almoçar. Naquela ocasião o campo não tinha vestiário. Tudo era feito no hotel, claro que combinado com o dono. Às 13:00h, os casqueiros já estavam todos ocupados. Não havia vendas de ingressos, a entrada era livre. Mas tinha uma rifa para custear as despesas. Lá estava o jovem Alintes Borges vendendo os últimos números da rifa de um relógio despertador. Podíamos ver o Inácio Schunk com seu guarda-chuva, Antônio Nalesso com sua capa gaúcha, tragando seu Beverly, meu pai com seu chapéu Ramenzoni, Wandelino Schunk com sua bengala e terno de linho. Hamilton Lins apostando cinco cruzeiros, que o Nuca faria um gol, Manoel padeiro rezando para que seu filho zagueiro, não cometesse um pênalti. Policarpo Puppin trouxe um cacho de banana prata para ofertar a quem fizesse o primeiro gol. Antônio Weyn, vendendo os seus pastéis de vento, Aquilar Entringer fazendo propaganda do seu refresco de gengibre, que custava um cruzeiro o copo. Oscar Araújo, Nenê Lovatti, Osvaldo Schunk, Humberto Stein, Luiz Bermond e muitos outros.

            Os visitantes chegaram primeiro. Faltavam cinco minutos para as 14:00h quando nos fundos do quintal de dona Fausta, debaixo de uma parreira de chuchu surgiu o time de vermelho e branco. Na frente, dona Maura com uma bandeirola vermelha. Foi aquele foguetório. O América entrou em campo com Ormindo Pinto, o goleiro, a saga com José Luis, Tarzan, Ananias, Amador e Nena. Atacantes, Nuca, Orly, Sergipe, Cacau e Piaba. Tivemos também um massagista, Eulálio Lopes Pinto, mais conhecido como "Coca".

            Às 14:00h em ponto, iniciou-se o jogo. Naquela época o jogo tinha de começar neste horário, já que o visitante vinha de trem, e o ultimo era das 16:40h. O primeiro gol foi rápido, um corner (escanteio), bem cobrado pelo atacante Orly, o goleiro falhou, lá estava o baixinho Sergipe, numa cabeçada fatal. Na época não tínhamos rede, quando a bola entrava, Inácio Schunk gritava — Foi para o fundo da parreira, como se sabe, o campo era rodeado de parreiras de chuchu. Para a ocasião, poderíamos chamar carinhosamente de Chuchuzão. Com dez minutos, o América fez 2 X 0, golaço do Nena. Mas o Transporte virou o jogo para 3 X 2. No primeiro tempo, Adayr fez algumas mudanças para reverter o placar. O segundo tempo começou imediatamente, já que o agente da estação, seu Vidon, informara que o trem estava no horário. O jogo terminou em 4 X 4, Sergipe fez mais um e, outro do Piaba. Gol do Transporte, Oscar 2, Arlindo 1 e Dada 1. Após o jogo, todos foram para o Bar América, tomar aquela cerveja Brahma Chopp gelada. Depois deste dia, os domingos em Marechal foram mais alegres, além da reza católica, o frango caipira com macarrão, e ovos cozidos.

            A tarde era aguardar o famoso foguete. Sabíamos, hoje tem jogo do América.


 Giovana Schneider 

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