sexta-feira, 27 de maio de 2022

Estação Marechal Floriano/ES. - Parte II

 

Ilustres Passageiros 

Estação Ferroviária de Marechal Floriano





Reportagem sobre mudança de local de refeição dos trens de passageiros, onde os mesmos preferiam fazer refeição no hotel da estação de Marechal.
Jornal Diário da Manhã de 27/04/1921. 
Fonte; Hemeroteca Digital – RJ                                


      Aristeu Borges de Aguiar

Jornal Diário da Manhã de 24/06/1928. Quando foi aclamado na Estação de Marechal Floriano. Na época era governador do Estado. Fonte; Hemeroteca Digital - RJ 


Em 1945 a Leopoldina, através de um dos seus diretores, deu uma entrevista ao Jornal
Gazeta de Noticia , onde relata em mudar nomes de estações. A estação de Marechal Floriano seria mudado para Caragoatá. 19/10/1945




A
parir  de 1916 quando a vila de Marechal teve um grande desenvolvimento, com hotel, casa de comércio, as viagens de trens da Leopoldina duplicaram. Conforme relatos de Ondina Pereira (Nonoca), para viajar com destino ao Rio de Janeiro tinha que comprar com antecedência. Segundo Ondina um outro fator importante era para os viajantes da redondezas de Marechal. Chegavam a cavalo, onde o animal tinha um pasto e os equipamentos  do animal, eram guardados em um barracão situado na atual rua de Santana. Pagava um pequena taxa. Quem hospedava no hotel, o preço da diária também  incluía o pasto. 
Diário da Manhã de 09/01/1916 Fonte: hemeroteca Digital - RJ 


   C
arregador de Malas

Em qualquer local do mundo, nas rodoviárias, aeroportos e estações de trens, tem o seu carregador de malas. A estação de Marechal não foi diferente, nos anos trinta e quarenta, quando haviam inúmeras números de pessoas viajando de trem, lá estava o menino Arlindo Pereira, de apenas 15 anos, onde seu trabalho era carregar malas, principalmente para o hotel da D. Alice Martins Peixoto. Além das malas, vendia pastel na estação. Nasceu em 13 de maio de 1922, na região de Costa Pereira, filho de João Pereira dos Passos e Floripes Nascimento. Estudou o primário com a professora Dolores Fonseca. Seus colegas de turma eram: José Piaba, Olympio Schunck, Waldemiro Entringer, Alvino Wassem, Pedro e Aristides Felisberto e Bruno Endlich. Seu maior sonho era servir o exercito. Em 1932, quando começou a revolução paulista, as tropas capixabas foram para o sul via trem de passageiros, segundo Arlindo tinham quatros vagões de contingentes. Ficou empolgado com as fardas e as armas dos soldados.
Arlindo não foi soldado, se tornou um grande jogador de futebol. Atuou em vários times da capital. Jogou no antigo Marechal Floriano Futebol Clube. Vinha de Vitória com tudo pago. Em vitória além de jogador, trabalhava como estivador.Entrevista em Marechal Floriano. 20/07/2015.
Jornal Folha Capixaba de 11/11/45. Arlindo era goleiro do Corinthians F. C. de Santo Torquato, famoso time da segunda divisão de Vila Velha – ES
Fonte; hemeroteca Digital - RJ




Propaganda de horários de trens da Leopoldina Railway Ministério de Viação e Obras Públicas de Relatório de 1915. Fonte: hemeroteca Digital BN.







Na estação de Marechalalém de passageiros, tivemos eventos políticos, translados de pessoas que faleceram. Em 1929 desembarcou o corpo de Pedro Schwarz, falecido no Rio de Janeiro. Nasceu em 25 de outubro de 1872.Em 16 de fevereiro de 1901 casou com Katharina Simmer, filha de Nicolau Willibrand e Katharina Simon. Pedro faleceu em 06 de janeirode 1929, sepultado no cemitério católico de Paraju. Foi um grande política do antigo município de Santa Izabel. Construiu a estrada entre Marechal e Sapucaia. Seu pai também foi politico,um dos fundadores do partido republicano no Espírito Santo. Militar como  patente de major, na época era conhecido como major Guilherme. Faleceu em 28 de novembro de1908,vítima de emboscada, sendo o acusado, Maximiliano Salloker. A direita Jornal Diário da Manhã de 16/01/1929, relatando a morte de Pedro Schwarz. Fonte : hemeroteca Digital - RJ  
                 
                                                               
Era 24 de dezembro de 1950 pela manhã quando vieram feridos e mortos para estação de Marechal. Quem viu, diz que  foi um dia horrível para a população de Marechal. Desastre que aconteceu a tarde noite do dia 23, perto da estação do Engano com o trem noturno da Leopoldina. Era antevéspera de natal, o trem lotado. Faleceram 19 pessoas, e muitos feridos. Além das morte, houve roubo do cofre contendo pagamentos dos empregados da empresa. A Leopoldina não deu uma assistência adequada. Era o segundo acidente no mesmo ano, sendo a causa maior, era manutenção de vias e locomotivas. O maquinista desta viagem, já tinha avisado ao chefe do trem que haviam problemas na frenagem. Os médicos de Vitoria quando souberam do acidente, direcionaram para o local. Um trem da Vale do Rio Doce prestou socorro. Para Estação de Marechal foram enviados feridos e mortos. De lá encaminhados para a  capital, via estrada de rodagem.

Revista da Semana 13/01/1951 Fonte : hemeroteca Digital - RJ

Administração da Estação

A estação de Marechal sempre foi administrado pelo Agente de estação e  um guarda-chaves.
Guarda-chaves:   sua responsabilidade  era fazer manobras, controlar as chaves de entradas e saídas do trem, ajudar carregar e descarregar mercadorias. Fazer limpezas na estação e ainda serviços na casa do agente. No tempo das Maria Fumaça, ajudava abastecer de lenha e água. Um dos mais antigos foi  Olímpio José da Penha. Outra função era vigiar os meninos que pegavam ponga no trem de passageiros.
Agente de Estação: Função de administrar a estação, pátios, fazer pagamentos ,controlar trens e transmitir telegramas.  Quando o trem chegava na estação, entregava um documento ao maquinista, onde informava a sua rota. Com o trem de passageiros, através do sino da estação, dava varias badaladas, isto significava que o trem já partiu da última  estação. O mesmo acontecia quando de sua  partida, dava uma única badalada. O chefe do trem ao ouvir o sino, comunicava ao maquinista através de uma bandeira verde. O maquinista por sua vez, dava vários apitos, e a viagem continuava...
Seu uniforme era uma calça azul, sapato preto e camisa branca. O chapéu de bico vermelho com símbolo arredondado, constando sua função. Os agentes  tinham a uma boa situação financeira. Na sua residência havia   de quase tudo, geladeira fogão com forno, alguns já tinham automóvel.  Os filhos eram diferenciados na escola. Bem vestidos com sapatos e bolsa de couro. 
Podemos citar alguns agentes. 
Alcino Fundão foi o primeiro agente. Antonio José da Penha, Efigênio Barreto, Josias, Vidon, Quieza, Milton Guimarães, Pedro Gomes Moreira. 

Responsáveis pela manutenção da Linha

Mestre de Linha: Um dos mais antigos foi Benicio nascimento da Vitoria; Responsável  de manutenção  de um certo trecho da linha. Sua responsabilidade era entre Domingos Martins e Rio Fundo. Diziam que um bom mestre de linha, era aquele enxergava a olho nu se bitola estava fora de padrão. A bitola da RFSSA era de 1000 milímetros.
Mantenedores de linha: Eram responsáveis pela conservação  da linha. Como trocas de trilhos, dormentes, parafusos, chaves, descarrilhamentos de composições. Faziam o percurso num trole de tablado de madeira montado em rodas, o qual os operários da estrada de ferro impelem sobre os trilhos, com auxílio de varas de bambu, com uma ponta de ferro. O freio era uma madeira de resistência, quando necessitado, através de buraco era direcionado para uma roda de ferro. Saiam  cedo, o percurso sempre tinha dificuldades, pois se a rota era em direção a Rio Fundo, havia uma subida. Quando era Domingos Martins a volta era subida. Levavam alimentação através de uma marmita que tinha cinco repartições. Trabalhavam no regime de semana inglesa, onde  sábado e o domingo tinham como  repouso. 

Benicio Nascimento da Vitória nasceu em 23/08/1908, faleceu em 26/08/1964, filho de Maximino Francisco Nascimento e Joanna Maria da Penha, casado com Maria Pereira Silva 1904/1990. Acima mantenedores de linha ao lado de um trole.

Histórias de Ferroviários

Aldemir mais conhecido como Mizinho,  contou que na década de cinquenta o governo federal ordenou que  todo café produzido no Sul do Espírito Santo e parte da zona da mata de Minas Gerais  deveria ser embarcado no porto de Vitória.  A ferrovia  entre Vitória  a  Cachoeiro do Itapemirim   não tinha muita segurança. Num curto período houve dois grandes desastres e com dezenas de mortes. Para garantir  a circulação dos trens ficou estabelecido.“Antes das 05:horas da manha o empregado mantenedor  partia de um determinado ponto fiscalizando a linha,  até chegar ao outro mantenedor, carregando uma  pequena chapa de ferro, onde  era trocada. Neste momento, retornava  ao seu local de trabalho  e entregava ao mestre linha  a nova  chapa como garantia que o percurso foi realizado”. Um mantenedor andava a pé até 20 quilômetros por dia. Isto tudo era para garantir o embarque do café  na capital  do Espírito Santo e o trem de passageiros. A direita relação de  antigos ferroviários. Foto do Aldemir ( Mizinho) com sua esposa Nair Borgo, filha deferroviário de Araguaia. 
              Historia  narrada pelo meu Tio  Emílio Gustavo Hülle

“ Minha sogra Clara Endlich  relatou  a chegada de uma viagem da Europa, na estação de Marechal” O  pessoal que ficou na vila sabia o dia chegada.  Os parentes  e amigos foram receber  Philipp Endlich e seus filhos, vinda de Hamburgo, na Alemanha. Era de costume  quando o trem aproximava da estação, iniciava uma serie de apitos, informando que o trem de passageiros chegou. Neste dia não teve o apito. Ao desembarcar sua filha Clara foi logo recepcionada: Cadê o papai disse um dos filhos. A resposta  foi dolorosa. Papai passou mal chegando no porto de Lisboa. Veio  a falecer. Ainda tentamos sepultar em Lisboa, mas não conseguimos. Ao sair do porto de Lisboa, horas depois , foi sepultado no mar.  Na  época além de grande comerciante, era vereador pela vila de Marechal.






Clara e seu pai Philipp – Foto 1898  Alemanha. Acervo Jair Littig






    Diário da Manhã 21/04/1934


Vagão de 1ª classe dos trens de passageiros que faziam o percursos nos anos cinquenta. Na época não havia ar condicionado. As poltronas eram moveis, onde uma família de quatro pessoas, poderiam viajar mais confortável. Foto acima (face book).

   


Preço de passagem entre Barão de Mauá a Vitoria. Fonte Almanaque da Leopoldina – 1948.
                                                                 Acervo: Jair Littig


Horário de trens entre Barão de Mauá a Vitoria. Fonte Almanaque da Leopoldina – 1948.
                                                      Acervo: Jair Littig


Os trens (expresso da 07h22min. e o misto da 10h09min.), que vinham de Vitória, suas locomotiva eram Baldwin, do tipo da foto. Neste horário, as filhas do Guarda-Chaves Olímpio Penha, vendiam café com um famoso bolinho. Uma de suas filhas que sempre esteve ao lado de mesa de madeira, recheado coisas deliciosas era Hilda Maria da Penha, mais conhecida como Morena. Foto Facebook 

Linha de ônibus entre Campinho e Marechal. Foto dos anos 30, ônibus vindo de Campinho trazendo a família do Pastor Carl Bielefeld para embarcar no trem noturno com destino ao Rio de Janeiro. Motorista Antonio Lorenzoni. Foto original pertence a Oberdan José Pereira.

Encampação  da Leopoldina Rayol

A Leopoldina no início dos anos cinquenta  estava numa situação difícil com dois grandes desastres. Enfim as ferrovias Brasileiras não iam bem. Em 1957, no governo do Juscelino Kubitschek, foi criada a Rede Ferroviária Federal. AS ( R.F.F.S.A). O Governo encapou varias ferrovias, Inclusive  a Leopoldina. A RFFSA, assim conhecida era uma empresa de capital aberto, sendo que o governo, continha 51% das ações. No percurso Rio a Vitoria teve uma grande melhoria, com a inauguração do famoso trem Cacique em 29/06/1961. Sendo os carros de aço. Seu percurso era Rio a Cachoeiro do Itapemirim. Tentaram levar até  Vitória, mas a topografia deste trecho não dava para condições de passagem deste novos vagões. Neste mesmo trecho foram colados locomotivas mais possantes, como as Garrat franceses, mais tarde as americanas GE, a Diesel/elétrica. No noturno voltou o carro restaurante. A direita reportagem do Jornal Tribuna da Imprensa  - RJ de 23/06/1961, sobre a inauguração do Trem Cacique. Fonte: Hemeroteca Digital - BN

                                 Domingo na Estação

Neste dia da semana a estação ficava lotada de curiosos. Uns vinham para acertar o seu relógio, pois o horário da estação não falhava. Outros para ver quem viajava ou que estava chegando. O maior movimento era o trem das 16:40min, pois tinha o restaurante que vendia maçã, jornais, revistas e pão. Era uma disputa, antes do trem parar, muitos já estavam dentro do carro restaurante. O Noturno não passava de cinco minutos na estação. Geralmente  tinha o automóvel do  Nicanor  Endlich (Nica) estacionado. No trem da tarde sempre haviam pessoas vinda do sul, que residiam ou  estava a caminho de Campinho. Tivemos muitas confusões na plataforma da estação, principalmente com recrutas que vinham do Rio de Janeiro. Uma ocasião alguém gritou para um recruta da marinha, chamando de pato d'água. Houve uma briga feia. Elisiario Ferreira que não tinha nada ver com a confusão, acabou recebendo tapas.Quando o noturno do Rio atrasava era aquela decepção. O agente informava, “noturno previsto para depois da meia noite”. Acabava a festa. Mas o passageiro que tinha de viajar, amargava um banco de ferro, ouvindo historias do  guarda-chaves. Paulinho Pereira que até 1959 morava em Vitória , trabalhando na Casa Chiabai. Aos sábados vinha de ônibus até Campinho. Seu irmão Cacau ia buscar com sua mula Farofa. No domingo voltava no  noturno. Segundo ele, muitas vezes chegou em Vitória, com  o dia amanhecendo. Jair Litti; Foto:  noite em Marechal Floriano, da década de sessenta. Neste silêncio,  ouvindo historias do guarda-chaves, o passageiro  solitário esperava  o trem noturno. Acervo: Jair Littig  

                Leão na Estação

Era uma tarde do mês de julho de 1958, quando o agente da estação, seu Barreto noticiou que vai passar um trem cargueiro com um circo vinde Campos para Vitória. Era período de férias escolar, muita gente foi para estação. Horas depois o trem cargueiro apitou na passagem da linha. Foi uma festa, os bichos grandes como elefante, zebra, camelo, cavalos, estavam em uma plataforma aberta. Leões e tigres em jaulas. No final da composição tinha havia vagão de passageiros onde estavam as personagens do circo. Como de praxe este tipo de carga, só para por necessidade. Mas neste dia foi diferente, não sei porque, a composição ficou parada por mais de vinte minutos. Era uma correria para ver tudo. Eu que só tinha visto  leão pelo cinema, pelos filmes do Tarzan, fiquei encantado. O tempo foi tão longo, que os artista  saíram da composição para fazer compras no bar América. As crianças não tiravam os olhos dos bichos e os  adultos nas mocinhas do circo.Enfim o trem apitou, o circo foi embora. Após a partida fiquei pensando,  como seria   este espetáculo . Eu que só conhecia o circo Brasil do seu Kamamura, onde tinha a Isaurinha trapezista, o dono do circo fazendo malabarismos e  mágicas, um palhaço. No final um teatrinho.  Isto tudo acompanhado com um  pirulito enrolado no papel, para chegar ao doce tinha lamber papel a noite toda.Anos mais tarde, em janeiro de 1960, meu pai, José Piaba e José Merisio alugaram uma lotação do seu Waldemiro Hülle para assistir em Vitória o famoso circo Garcia. Já se passaram mais de sessenta anos. Ainda hoje tenho na memória este grande espetáculo. Jair ; Circo Garcia: Imagem Internet

Histórias

Os times de Vitória vinham jogar em Marechal de trem. Tinha três opções saindo de Vitória; Expresso que chegava às 07:20, Misto às 10:10 e o noturno as 12:00. O retorno era pelo noturno que saia às 17:00. Mas como nunca andava no horário. Jogava-se e ainda tinha tempo para tomar cerveja. Por segurança alguém corria na estação para saber o horário. Em 1959 o agente de Estação era Efigênio Barreto, quando acabava o primeiro tempo, alguém corria na estação para saber o horário, e sempre vinha  aquela frase, “podem jogar e beber, pois o trem ainda nem passou em Matilde”. Em 1961 o ponta direita do América era um agente de Estação, Milton Português. Quando acabava o primeiro tempo, corria na estação para saber onde andava o trem. Como o noturno raramente andava no horário, nunca teve problemas em jogar. Jair Littig
Foto de 12/03/1961 América de Marechal. Da esquerda para direita em pé Cacau, Paulinho,Helvécio,Abel, Ananias e José Luis. Agachados Milton Português, Martin Basseto, Roberci, Nuca e Mano.

O Fim do Trem de  Passageiros

A partir de 1960, quando foi aberta a rodovia federal BR 31, hoje 262, mesmo sem asfalto, ficou mais rápido de ira a capital. Em 1964 quando o asfalto chegou em Marechal Floriano, tínhamos mais opções de viajar. Assim o trem de passageiros não era mias vantajoso de deslocar. Porém para o sul  ainda havia uma grande demanda, principalmente para Cachoeiro e Rio de Janeiro.
Em 1964 o regime militar sucateou  as ferrovias. A preferência era por rodovias. O trecho entre Vitória  e Cachoeiro foi um dos mais afetados. Entre 1974 e 75, realizei três viagens entre Barão de Mauá até  Cachoeiro e Muqui. Na época o trem Cacique já tinha muitos problemas, principalmente de manutenção. Numa das viagens, vim no vagão dormitório até Campos. Além do barulho, calor e a roupa de cama suja, o café da manhã foi péssimo. No começo dos anos oitenta, o trecho Vitória foi desativado. Em 28 de maio de 1996, o Cacique fez sua última viagem. Em 28 de fevereiro de 1997, a malha sul da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) foi privatizada,  a Sul Atlântico, ganhou a concorrência com a oferta de R$ 216,6 milhões.

                    Estação de Marechal Floriano sob administração da Sul Atlântico. Acervo: Jair Littig - 1997


 Fim
[...]


quarta-feira, 18 de maio de 2022

Estação Marechal Floriano/ES. - Parte I


 Ilustres Passageiros



O Cachoeirano de 24/5/1900
Estação Ferroviária de Marechal Floriano. 

 Primeiras reportagens citando a Estação Marechal Floriano.
 Fonte: Hemeroteca Digital – BN-RJ

O Cachoeirano de18/07/1897



José de Melo Carvalho Muniz Freire, mais conhecido como Muniz Freire nasceu  em Vitória, 13 de julho de 1861.
Advogado, jornalista, governador do estado do Espírito Santo por dois mandatos, entre 1892 e 1896 e  1900 a 1904. Senador entre 1905 a 1914, deputado provincial entre 1882 a 1883, 1888 a 1889 e deputado federal entre 1890 e 1892.
Conhecido como pai da ferrovia Sul Espírito Santo. Foi ele que deu o nome para estação da Vila do Braço do Sul  de “Estação Marechal Floriano”, para homenagear  o falecido presidente da Republica. Muniz faleceu no Rio de Janeiro em 3 de abril de 1918.
Hoje existe uma pergunta  que  seria impossível de responder. Muniz Freire  para homenagear o Presidente Marechal Floriano, deu o nome a estação da Vila do Braço do Sul  como “Estação Marechal Floriano Peixoto”, porém na pedra não consta o Peixoto.




  
Jornal Estado Espírito Santo de 06/06/1899 constando que a casa do agente da estação de Marechal ainda não esta acabada. Conforme registros, só ficou pronta quando os ingleses adquiriram a ferrovia.  
Fonte: Hemeroteca Digital - BN.
             Jornal Estado Espírito Santo de 09/08/1900.




Constando a informação do real nome dado a Estação de Marechal Floriano.
Fonte: Hemeroteca Digital – BN.

Fonte; Acervo Museu do Imigrante de marechal Floriano - ES
A vila de Marechal estava situada na região de cima onde havia o comércio e casas  dos Endlich. Ainda eram construções  do antigo Braço do Sul.Com a inauguração da estação em 1900, iniciou-se a construção ao redor  da mesma. A partir de 1910 quando Bellarmino Pinto Coelho adquiriu lotes ao redor e começa a construir casa de moradia, comércio, cinemas, escolas, máquina de beneficiar café e outro mais.
Quadro pintado nos anos 40 pelo Ricardo, baseado numa fotografia  de uma enchente de 1917. Na foto podemos ver duas vilas. A da esquerda onde tudo  começou em 1862, ampliada em 1890 com a chegada da família Endlich. As construções são dois comércios e casas, inclusive o sobrado. No lado direito tudo que foi construído pelo Bellarmino entre 1913 a 1917. Ainda podemos ver bem no canto a residência do Vitto Travaglia, que em 1927 vendeu para José Henrique Pereira.


Foto de 12/abril de 1931. Casas e comércio ao redor da estação.
Acervo : IPHAN – Vitoria ES

Registros e imagens que ocorreram  desde do começo de sua construção em 1898 até 1982, quando de sua desativação. Por ela passaram presidentes, governadores, ministro de estado, secretários estaduais e senadores. Soldados que foram para revolução de trinta e a segunda Guerra Mundial, times famosos de futebol do Rio de Janeiro. Casais partindo para lua de mel, viajantes anônimos com sua malas de couro, com capas brancas, de terno de linho branco, onde no final da viagem estava escuro, devido o carvão utilizado pela locomotiva. As damas com seus chapéus enfeitados, assim era a plataforma da estação. A chegada do trem noturno, vindo do Rio, era uma festa para ver o desembarque do ilustre que vinha da capital federal com mil historias. Não podemos esquecer que tínhamos maleiro, para levar seus pertences até o hotel de D. Alice.
Tudo era um glamour...
Foto  de 18 de setembro de 1938. Estação de Marechal Floriano. Clara a segunda  de vestido branco, com seu pai e suas irmãs, no embarque do pastor Karl Bielefeld.


C
om a inauguração da estação em 13/05/1900. Sendo que no dia seguinte já iniciou-se o transporte de passageiros.
Sobre o vagão, temos poucas informações. No relatório da Estrada de 1900, constam que haviam: 01 carro de 1ª classe, 01 misto e 01 de 2ª classe.
Provavelmente os primeiros passageiros, foram pessoas da região.





Ao lado: Jornal Diário da Manhã de 19/05/1900.
Esquerda acima foto da composição com dois vagões. Da Revista o Malho de  1906.
Fonte: Hemeroteca Digital – RJ.





Conforto e Rapidez

Wagemann no seu livro “Uma viagem de estudos ao Espirito Santo”, de 1915, no capítulo tropas diz:” Um animal  em região montanhosa desloca em média de 04 a 05 horas por dia. Ou no máximo de 15 a 20 km.
Para deslocar até  Vitória,  dependendo do tempo, a viajem  ao lombo de animal durava até dois dias. Como a região era montanhosa,  em tempo de chuva, tudo era difícil. Com a inauguração, uma viagem de Mathilde para Vitória, que durava mais  de dois dias, com o trem passou para quatro horas, isto sem chuva e sol. 
Meu tio Emílio relatou que sua sogra Clara Endlich ficou muito feliz com a inauguração. Segunda ela, podia chegar em Vitória com mesmo vestido.
Foto da família Endlich. No centro Anna viúva. Da esquerda para direita. Gertrudes Emilio Clara, João, Adão , Maria Manoel e Joanna. Família frequentadora do trem de passageiros.


No início do século XX, ate os anos cinquenta, os lideres políticos tinham que deslocar de navio ou trem. No trem era mais importante, já que tinha contato com povo, com obras, enfim era um forma de fazer política.
Os comboios eram formados de vagões com restaurante, dormitórios e salas de reuniões. A locomotiva toda embandeirada, com hastes metálicas de cor amarela. As estações tinham que hastear bandeiras. Enfim era uma viagem onde passava, o povo corria para a estação com suas bandeirolas, banda de música e muito mais.
Inauguração da Parada de Rio Fundo – 1906-. Comitiva do engenheiro Antonio de Athayde. Acervo Biblioteca  Nacional RJ



E
ngenheiro Antônio Francisco de Athayde
Nasceu no Espírito Santo em 22 de outubro de 1860, formou-se em engenharia civil no Rio de Janeiro na Escola Politécnica em 1884, lecionou Pedagogia na Escola Normal Pedro II e em 1906 foi o último diretor  da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo.




Samuel  Joaquim Francisco Rosa
Primeiro maquinista de 1ª classe contratado pela E. F. S. E. Nasceu em 24/07/1881. Em 1905 desligou-se da ferrovia. Neste mesmo ano compra um barbearia em Vitoria. Retorna a Araguaia, onde compra a residência do Francisco  Kaniski. Foi comerciante. Faleceu em 22/10/1945, sepultado em Araguaia. Era casado com Lucia Canal.
Foi maquinista que transportou o governador provincial para inauguração da estação de Marechal Floriano em 1900. 

 José Marcelino Pessoa de Vasconcelos
 Nasceu em Vitória de  04 de novembro de 1864.Formado em medicina em 1889. Em 1895 foi eleito deputado estadual pelo Partido Republicano Construtor (PRC). Ao final de seu mandato, foi escolhido pelo partido candidato à presidência do estado na vaga aberta pela renúncia de Graciano Santos Neves, que foi substituído interinamente pelo vice-presidente Constante Gomes Sodré. Eleito, tomou posse a 6 de janeiro de 1898.Foi presidente do Espírito Santo, de 6 de janeiro de 1898 a 23 de maio de 1900. Poucos meses depois foi eleito deputado federal, tendo tomado posse em outubro de 1900. Não completou o mandato, pois faleceu precocemente em 11 de julho de 1902, no Rio de Janeiro. Marcelino inaugurou a estação de Marechal Floriano.


      Foto de maio de 1904 da revista O Malho. Foto tirada na frente da  estação com a comitiva de Muniz Freire e o Ministro Lauro Müller. Fonte: Hemeroteca Digital - RJ


Lauro Severiano Müller

Nasceu em  Itajaí, Santa Catarina em  8 de novembro de 1863.
Militar, engenheiro, político e diplomata brasileiro.
Quando esteve na Estação de Marechal Floriano em maio de 1904, era Ministro  da Viação. Foi um dos mais influentes politicas do inicio do século XX.
Faleceu no Rio de Janeiro em 30 de julho de 1926.


Partes de uma reportagem da visita do Ministro no Espirito Santo de maio 1904, quando esteve na Estação de Marechal Floriano. 
Fonte; Jornal A Notícia de 21/05/1904- hemeroteca Digital - RJ



Com a inauguração do trecho entre Matilde a Cachoeiro, ligando a estação de Santana em Niterói.  O viajante de Marechal  que desejava viajar para a capital do Brasil, tinha que deslocar até Vitoria, já que o trem de luxo da Leopoldina, partia de Vitória até Muniz Freire, estação de Cachoeiro do Itapemirim, Campos e finalmente em Niterói, conforme registros do jornal o Paiz de 03/08/1910
Somente em 1915,  que as estações de Araguaia, Marechal e Viana, onde foram autorizados embarques, desde que tivesse passageiros.
Fonte: Ministério de Viação e Obras Públicas de Relatório de 1915 Hemeroteca Digital - RJ



A  estação além de atender a parte ferroviária, foi escritório do Comissariado de Terras no Espirito Santo. Em 1901 quem coordenava era o agrimensor/engenheiro Augusto Roberto Wallenstein Pacca.
Planta do terreno de Luiz Klein na região do Rio Braço do Sul, de 21/05/1902 registrado em Marechal Floriano. APEES A direita reportagem do Jornal Estado do Espírito Santo de 12/04/1901.


Entre os passageiros que desembarcaram na estação de Marechal, encontramos imigrantes alemães e italianos que vieram residir no antigo município de Santa Isabel. Entre eles, esta a família de Bernard Neumann e sua esposa Elisabet Kiefer. Imigrantes alemães que chegaram no Espírito Santo via férrea. Foram enviados para  Sapucaia. Fonte: Nº. 48626 NEUMANN Bernhard    País: Alemanha   -  Região/Estado:Renânia-Palatinado Província/Município: Kaiserslautern Comuna/Distrito: Data de Chegada:   Julho   1922   - Destino:Marechal Floriano



Enrico Gasparri
Foi ordenado em 10 de agosto de 1894. Estudou em Roma, recebendo diploma em teologia e filosofia e trabalhou em Roma em um papel pastoral de 1894.Em 01 de setembro de 1920, o Papa Bento XV nomeou-o núncio para o Brasil .Veio ao Espirito Santo em 1922. No seu retorno o trem especial parou na Estação de Marechal Floriano. Segundo moradores antigos o  núncio fez uma oração para os fieis que estavam no local. 



Reportagem o Jornal Diário da Manhã de 22/12/1922.

     D. Fernando Monteiro
Era o Bispo do Espírito Santo na época. Foi ele que autorizou a construção da Capela. Era irmão do Governador Jerônimo Monteiro.
Não viu a inauguração , pois faleceu no Rio de Janeiro, em 23 de março de 1916.
Na inauguração da capela , o jornal Diário da Manhã do dia 20  dezembro de 1916, na matéria sobre a inauguração da igreja, cita que a praça em frente da estação, passaria a chamar de praça D. Fernando Monteiro.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1922. Seu corpo foi translado para Vitória, via trem especial da Leopoldina.  todas as estações o cortejo  era homenageado. Na estação de Marechal uma grande multidão o esperava com a presença do prefeito Germano Gerhardt.





                       D. Â
ngelo Scapardini 
Jornal Diário da Manhã 19/09/1917 - Fonte hemeroteca Digital- RJ  
 Nilo Peçanha
Registro da viagem do Presidente Nilo Peçanha em 1910. Na passagem pela estação de Marechal, o comboio ficou poucos minutos. João Kuster, filho do suíço Jacob, tinha aproximadamente treze anos, colocou sua melhor roupa e caminhou para a estação. Depois de muita demora, o trem apareceu, todo enfeitado. O presidente veio a janela, e deu um adeus, o trem apitou e partiu. Abaixo parte da reportagem do Jornal O Paiz , do Rio de Janeiro de 22/07/1910. Fonte. Hemeroteca Digital  - RJ. Fotos: Nilo Peçanha  e João Kuster.                                                                           

A esquerda o Jornal Diário da Manhã 27/12/1911 onde traz uma reportagem da viagem do Dr. Jeronymo Monteiro, presidente do Estado. Numa viagem que fez a Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Parte desta reportagem aconteceu na estação de Marechal Floriano. 
Fonte: Hemeroteca Digital - RJ



C
oronel Marcondes Alves de Sousa 
 
O Diário da Manhã 15/10/1912, reportagem de uma viagem de retorna  a capital do Coronel Marcondes, presidente do estado saindo Cachoeiro do Itapemirim. Onde relata uma homenagem da escola pública de Marechal Floriano.
Fonte: Hemeroteca Digital - RJ



Bernardino de Souza Monteiro
Jornal Diário da Manhã de 15/02/1916. Futuro governador do Estado do Espirito Santo. Fonte; Hemeroteca Digital - RJ



Revista da Semana de 11/03/1916 Fonte; Hemeroteca Digital - RJ








J
ornal O Cachoeirano de 10/11/1918. Reportagem de uma viagem dos Senadores Jeronymo Monteiro e Marcilio Lacerda e os deputados Ubaldo Ramalhete e Heitor de Souza.
Fonte; Hemeroteca Digital - RJ
                                                           
João Jayme Pessoa
Comandante da policia de Vitória (imagem acima)
Jornal Diário da Manhã de 26/06/1920. 
Fonte; Hemeroteca Digital - RJ
A Direita 


D
iário da Manhã 27/11/1929
Viagem do Secretario da Agricultura Dr. Ormando Borges de Aguiar, reportagem de uma viagem de trem, onde foi homenageado na estação de Marechal Floriano
Fonte: Hemeroteca Digital - RJ


R
eportagem sobre mudança de local de refeição dos trens de passageiros, onde os mesmos preferiam fazer refeição no hotel da estação de Marechal. Jornal Diário da Manhã de 27/04/1921. 
Fonte; Hemeroteca Digital – RJ















Continua ...

Historias do Comércio - Indústria e Serviços de Marechal Floriano Part.: II / VI

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