PAULO COELHO
O DESENHO QUE SEDUZIA
Um grande sábio sufi passou anos meditando
sobre a vida. Para dividir seu conhecimento, fez um desenho numa folha
de papel, e mostrou aos seus discípulos.
Os seguidores do sábio sufi ficaram tão impressionados com a beleza
do trabalho, que mandaram imprimir o desenho numa placa de bronze.
Logo a noticia se espalhou, e começaram a vir peregrinos do mundo
inteiro, para decifrar cada linha do desenho. Em poucos anos, as pessoas
passaram a adorar a placa de bronze, corno se fosse sagrada.
“Não é desta maneira que a beleza deve ser vista”, disse o sábio,
decepcionado. “Ela deve ajudar o homem a compreender os mistérios de
Deus, mas não pode ser a razão da vida”.
Imediatamente mandou fundir a placa, e transformou- a em um caldeirão.
“Pelo menos, desta maneira o bronze ainda continua belo, mas não perde o seu significado”.
Um fiel aproximou-se do rabino Moche de Kobryn:
“De que maneira devo usar meus dias, para que Deus fique contente com meus atos?”
“Só existe uma alternativa: procure viver com amor”, respondeu o rabino.
Minutos depois, outro discípulo aproximou-se e fez a mesma pergunta.
“Só existe uma alternativa: procure viver com alegria”.
O primeiro discípulo ficou surpreso.
“Mas o conselho que o senhor me deu foi diferente!”
“Ao contrário”, disse Moche de Kobryn. “Foi exatamente igual”.
AMALDIÇOANDO
Um feiticeiro mexicano conduz seu aprendiz pela
floresta. Embora mais velho, ele caminha com agilidade, enquanto seu
aprendiz escorrega e cai a todo instante.
O aprendiz blasfema, levanta-se, cospe no chão traiçoeiro, e continua a acompanhar seu mestre.
Depois de longa caminhada, chegam a um lugar sagrado. Sem parar, o feiticeiro dá meia-volta e começa a viagem de volta.
“Você não me ensinou nada hoje”, diz o aprendiz, levando mais um tombo.
“Ensinei sim, mas você parece que não aprende”, responde o
feiticeiro. “Estou tentando lhe ensinar como se lida com os erros da
vida”.
“E como lidar com eles?”
“Como deveria lidar com seus tombos. Ao invés de ficar amaldiçoando o
lugar onde caiu, devia procurar aquilo que provocou a queda”.
SUPERANDO OS OBSTÁCULOS
Um famoso mestre sufi foi convidado para dar um
curso na Califórnia. O auditório estava repleto às 8 da manhã – hora
marcada para começar – quando um dos assistentes subiu ao palco.
“O mestre está acordando agora. Tenham paciência”.
O tempo foi passando, e as pessoas abandonando a sala. Ao meio-dia, o
assistente voltou ao palco, dizendo que o mestre daria a palestra assim
que terminasse de conversar com uma bela menina que encontrara. Grande
parte da plateia saiu.
As quatro da tarde, o mestre surgiu – aparentemente alcoolizado. Desta vez, quase todos saíram; ficaram apenas seis pessoas.
“Para vocês eu ensinarei”, disse o mestre, parando de representar o
papel de bêbado. “Quem deseja percorrer um caminho longo, tem que
aprender que a primeira lição é superar as decepções do início”.
O MESTRE É COMO UM SINO
Um estudante recém-chegado ao mosteiro procurou
o mestre Nokami, e perguntou como devia preparar-se para o exercício de
meditação.
“Não tenha medo de perguntar”, foi a resposta.
“E como aprendo a perguntar?”
“Um mestre é como um sino. Se você der apenas um leve toque, tudo que
escutará é uma leve vibração. Mas se sacudir com vontade terá um
ressonar bem alto, que vai abalar até o fundo de sua alma. Pergunte com
coragem, e só pare quando obtiver a resposta que procura”.
O CENTÉSIMO NOME
Um estudante pediu a um mestre sufi que lhe revelasse o quinto nome de Deus.
- Quem conhece este nome, é capaz de mudar a História – comentou.
- Quem conhece este nome, é capaz de mudar a História – comentou.
O mestre pediu que passasse um dia inteiro na porta da cidade. O rapaz obedeceu, e voltou no dia seguinte.
- O que você viu? – perguntou o mestre.
- Um velho tentou entrar na cidade com um carneiro para vender. O guarda
cobrou um imposto, mas o homem não tinha dinheiro. Então o guarda
roubou-lhe o carneiro e expulsou-o. Eu pensava: se soubesse o nome
oculto de Deus, seria capaz de modificar esta situação.
- Você podia ter impedido esta injustiça – mas preferiu ficar sonhando
com uma revelação. Que tolice! Pois bem, vou revelar-lhe o quinto nome
de Deus: ação em favor dos outros. Só assim podemos mudar a História.
ALÉM DO PORTO
Um eremita do mosteiro de Sceta se aproximou do Abade Teodoro:
“Sei exatamente qual o objetivo da vida. Sei o que Deus pede ao homem, e
conheço a melhor maneira de servi-lo. E, mesmo assim, sou incapaz de
fazer aquilo tudo que devia estar fazendo para servir ao Senhor”.
“Você sabe que existe uma cidade do outro lado do oceano”, respondeu
Teodoro. “Mas ainda não encontrou o navio, não colocou sua bagagem a
bordo, e não cruzou o mar. Por que ficar comentando como ela é, e como
devemos caminhar por suas ruas? Coloque em prática o que você está
dizendo, e o caminho se mostrará por si mesmo”.
A TAREFA MAIS DIFÍCIL
Um dos rapazes que estudava com Nasrudin, quis saber:
- Qual é o maior de todos os homens: aquele que conquistou um império?
Aquele que teve todas as possibilidades de fazer isto, mas renunciou ao
desejo? Ou aquele que impediu que outro o fizesse?
- Não tenho a menor idéia – respondeu o sábio sufi. – Mas conheço uma tarefa muito mais difícil que as que acabam de citar.
- E qual é?
- Impedi-los de ficar analisando o que os outros fizeram, e tentar
ensinar a se preocuparem com aquilo que vocês mesmos podem fazer.
MAIS PERTO DE DEUS
Um dos mais desconcertantes – e deliciosos –
ensinamentos do mestre era repetir: “Deus está mais próximo dos
pecadores que dos santos”.
E explicava da seguinte maneira: “O Senhor, nos céus, tem um fio que o
conecta a cada um dos seres humanos. Quando você erra, este fio é
cortado, e Deus dá um nó. Quanto mais pecados, mais nós têm a corda,
mais curta ela fica – e a pessoa se aproxima cada vez mais de Sua
misericórdia”.
A PEDRA QUE FALTA
Um dos grandes monumentos da cidade de Kyoto é um jardim zen, uma superfície de areia com 15 rochas.
O jardim original tinha 16 rochas. Conta a lenda que, assim que o
jardineiro terminou sua obra, chamou o imperador para contemplá-la.
“Magnífico”, disse o imperador. “É o mais lindo do Japão. E esta é a mais bela rocha do jardim”.
Imediatamente o jardineiro tirou do jardim a pedra que o imperador tanto apreciara, e jogou-a fora.
“Agora o jardim está perfeito”, disse para o imperador. “Não existe
nada que se sobressaia, e ele pode ser visto em toda a sua harmonia”.
“Um jardim, como a vida, precisa ser visto na sua totalidade. Se nos
detivermos na beleza de um detalhe, todo o resto parecerá feio”.
GOSTO DE TEXTOS DE REFLEXÃO ...
ENTÃO, ESPERO QUE GOSTEM DA PARTILHA.
GIOVANA CRISTINA SCHNEIDER
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