quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Vila Braço do Sul 1862 - 1900 Part. I / IV

 

Era o ano de 1858, a Colônia de Santa Izabel passava por tempos difíceis. O Diretor Gustav Bungenstab, um militar que lutou na guerra contra  Oribe e Rosas 1851-52 era luterano , depois converteu-se  ao catolicismo. Não tinha experiência  em administrar, acabou sendo guiado pela igreja católica, que na época obrigava o imigrante a mudar de religião. Quantos aos imigrantes e brasileiros a confusão ainda era maior. Pelo lado dos europeus, tinha muitos alcoólatras, brigões, pessoas que já vieram expulsos de sua terra natal, os luteranos não tinham igreja, falta  estradas, demarcação de terras e outros conflitos. Sabemos que entre 1845 até 1858, não havia um sistema de seleção  para o imigrante. Segundo relatos da época, Santa Izabel, recebeu alguns. Texto abaixo do livro “Viagem à Província do Espírito Santo”, autor Johann Jakob von Tschudi (foto a esquerda) , quando visitou a colônia em 1860. 

“Dois dias antes de minha visita a Santa Isabel, teve lugar a conversão ao catolicismo de um colono protestante, em circunstâncias que haviam provocado uma grande indignação entre os protestantes. O Presidente da Província dirigiu então uma nota ao sacerdote católico, na qual lhe dizia : “O Governo Imperial não trouxe colonos ao Brasil para ganhar almas para a fé católica, mas a fim de lhes assegurar uma existência e um futuro; ele proíbe, em conseqüência, qualquer conversão nas próprias colônias; se um colono sentir a necessidade de mudar de confissão, precisa ir à capital e apresentar-se a ele, presidente, a fim de que ele se convença de que a conversão se deu espontaneamente, e o ato deve se dar numa igreja de Vitória.” Essa ordem é um testemunho do desejo do Governo Imperial de combater, tanto quanto possível, o proselitismo. Encontrando-se o padre Hadrian Lauschner em Vitória durante minha estada naquela cidade, o presidente chamou-o em minha presença, e eu aproveitei a ocasião para lhe dirigir sérias advertências sobre a importância da manutenção da boa harmonia religiosa entre os colonos. Estes, na maior parte alemães, são geralmente bons trabalhadores; alguns poucos entre eles, particularmente de Hesse-Darmstadt, que chegaram em completa penúria e já pertenciam em sua pátria à pior parte da população, devem ser dados à bebida e terminarão mal”.



Philipp  Littig 1º, filho de Jacob Littig e Anna Maria Brach.Nasceu em Frei-Laubersheim,  em  06 de fevereiro de 1831. Chegou ao Brasil com 28 anos. Em 03 de dezembro de 1859, foi forçado a casar na igreja católica de Santa Isabel. Seu cunhado Cristovão , que já tinha convertido ao catolicismo, foi  um dos padrinhos do casamento. Além do casamento, ainda batizou seu filho Ludwig. Em 04 de dezembro de 1859, um dia após ter casado na igreja católica de Santa Isabel. O pastor luterano Constantin Held, anulou o casamento , e fez uma nova cerimônia. Conforme registros do livro  “Viagem à província do Espírito santo, do autor suíço Johann Jakob von Tschudi, o pastor Helder, também  era intolerante. Evidências Igreja católica de Santa Isabel e luterana de Campinho. Depoimento Edmund Littig.
Em 20 de setembro de 1858,  o Jornal, Correio Mercantil, do  Rio de Janeiro, publica uma nota onde consta a vinda de um engenheiro para a Colônia de Santa Izabel, para demarcar terras .
Em 07 de agosto de 1858 desembarca em Vitória o Engenheiro civil Militar Adalbert  Jahn, contratado pelo Ministérios dos Negócios do Império, através do Ministro Sergio Teixeira de Macedo, para administrar  a Colônia de Santa Isabel-ES.  Adalbert Jahn; Nasceu em  20 de julho de 1821 em Königsberg,Prússia. Filho de Karl Wilhelm e Henrieth Huning.  Königsberg fundada em 1255, foi de 1457 a 1945 capital e centro cultural e econômico da Prússia. A cidade e sua população sofreram no final da Segunda Guerra Mundial os severos bombardeamentos aliados, sendo bastante devastada. Após a Guerra, foi rebatizada para Kaliningrado, em homenagem  ao  presidente do  Comitê Central do Partido  Comunista Mikhail Kalinin . A União Soviética anexou os territórios da região de Kaliningrado. Era casado com Marie Reiss. Conforme registro de sua naturalização, Adalbert chegou no Brasil, em 1851, para lutar na Guerra contra o  Uruguai e Argentina. A direita a pagina inicial do processo de naturalização. O documento  original encontra-se no Arquivo Nacional – RJ.
Adalbert  Jahn na Colônia de Santa Isabel mediantes a tantos problemas. Jahn começa a administrar a colônia.  Vai construir  sua residência  distante da Vila. Nesta mesma região elabora  uma nova  Vila.  Tudo indica que esta planta  resultou na  atual cidade de Campinho. Em julho de 1859, Adalbert  escreve uma carta para o Jornal  Alemão Allgemeine  Auswanderungszeitung, informando  de uma nova realidade da  colônia onde diz”  Na colônia há  muito trabalho, as pessoas que lá vivem têm  motivos para estarem satisfeitos, onde reafirma , pois sem trabalho e esforço não se alcança  nem no Brasil, nem em qualquer outra parte do mundo, sendo que o grande  erro dos agentes europeus seria o de mandarem pessoas  para a América que não podem e muito menos querem trabalhar.  Era uma resposta para aqueles colonos que encontrou  em Santa Izabel, que estavam insatisfeitos ,e não tinha vontade de trabalhar”.
Evidências;  Mestrado de Elisangela Redel. Universidade Oeste  -  Cascavel - Paraná 2014.
Acima  Foto  da  residência de Adalbert Jahn, datada de 1860, pelo fotografo Victor Frond. A foto original encontra-se na Biblioteca Nacional – RJ. Nesta casa D. Pedro II ficou hospedado, quando visitou a Colônia em 1860. 
Região do Braço do Sul foi uma extensão da  de Santa Isabel. Começou a desenvolver em 1858, quando  Adalbert Johann  percebeu que havia uma necessidade de ampliar a colônia. Já não tinha  terras para todos. O filhos dos imigrantes da primeira leva, mais a chegada de novos, obrigou ao diretor Jahn junto ao império, em desenvolver uma região que ficava ao sul,  com vastas extensões de terras, com grandes quantidades de água, tendo o Rio Braço do Sul, como referência. Grande parte desta região hoje é o município de Marechal Floriano. Um foto curioso. Na margem direita foram imigrantes  luteranos, como Littig, Klippel, Hoffmann, Knitell.  Na margem esquerda,  Stein, Erlacher, Bourlot, Wernersbach. O engenheiro Pedro Claudio Soído, faleceu em combate na Guerra do Paraguai, em  18 de setembro de 1867, em Tiuiti. Obs. Abaixo relatório do governo do Espírito Santo, José Francisco de Andrade Almeida Monjardim, datado de 23/05/1858, onde o Engenheiro Pedro Claudio Soído apronta 100 prazos e casas provisórias para região do rio Braço do Sul.  APEES


A colônia do Rio Braço do Sul, na época conhecida como Colônia Nacional do Braço do Sul, foi projetada para receber imigrantes europeus, como também brasileiros. Segundo Jann era um forma de melhorar as convivências. .Abaixo partes de um relatório do Ministério da Agricultura de 1862, onde o último item cita a venda de casas para brasileiros e estrangeiros.
Relatório de maio de  1863, da Província do Espírito Santo – José Fernandes Costa Pereira Júnior. Sobre a ponte o Rio Braço do Sul, Estrada direcionada para Guarapari.
Abaixo Documento em homenagem aos 160 anos da fundação da Vila do Braço do Sul, conforme relatório do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde. Aviso de 19 de novembro de 1862. Adalbert Jahn; Evidências – Arquivo Nacional - RJ.




     Pedro de Alcântara Bellegarde 

Nascido na nau Príncipe Real, que trazia a família real ao Brasil em 13 de dezembro de 1807, filho do major Cândido Norberto Jorge    Bellegarde (1781-1810) e de Maria Antônia Conrado de Niemeyer (1782-1852). Foi batizado em 4 de agosto de 1808, no Rio de Janeiro, tendo como padrinho D. Pedro de Alcântara, então príncipe da Beira. Aos 13 anos ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro cursando artilharia. Durante o curso alcançou a patente de capitão e ajudou o visconde de Jerumirim e o barão de Caçapava nas obras de fortificação do Rio de Janeiro, tendo se transferido para a arma de engenharia. Concluído o curso em 1827, foi promovido a major em 1828. Em 1832 retornou à Escola Militar como professor, responsável pelo Observatório Nacional, participando também do projeto da Escola de Arquitetos Medidores, em Niterói, onde foi depois também professor. Em 1841 projetou, com Conrado Jacó de Niemeyer, seu tio, um sistema de encanamento de água potável para a província de Pernambuco. Casou-se, em 25 de agosto de 1841, com Carlota Carolina de Castro Dias, viúva do português José Bento Ferreira Soares, com quem teve duas filhas, cuja primogênita, Cândida Carolina Dias Bellegarde (1843-1921), veio a se casar com Cândido Lins de Vasconcelos. Foi encarregado de negócios no Paraguai de 1848 a 1852, retornando ao Brasil como brigadeiro. Foi ministro da Guerra, de 6 de setembro de 1853 a 14 de julho de 1855 , tendo criado o Batalhão de Engenheiros. Foi também , interinamente,  ministro da marinha de 6 de setembro a 15 de dezembro de 1853.Nomeado chefe da comissão de limites entre o Brasil e o Uruguai. Foi diretor da Escola Central do Exército, além de ministro dos transportes de 9 de fevereiro de 1863 a 15 de janeiro de 1864.Membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, agraciado comendador da Imperial Ordem de São Bento de Avis. Faleceu no Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1864. Pesquisa; Arquivo Nacional -RJ. A Vila do Braço do Sul teve duas famílias pioneiras, que adquiram lotes, onde cultivaram café, milho, implantaram escolas, comércio, carpinteiros e marceneiros. Podemos destacar a familia do suíço Johann Kuster, que chegou no final de ano de 1862, e a Rupf,  em janeiro de 1860. Dois anos depois já tinha adquirido lotes no Braço do Sul.
           Kuster                                                                                 Rupf

                   

 
Mapa da Colônia de Santa Izabel de 1862. No círculo amarelo,   a área que pertencia ao região do Braço do Sul.Acervo: APEES.

Abaixo relatório de despesas da Colônia de Santa Isabel – junho de 1862 – APEES

Historias Sobre esta Ponte
Quem vinha de Santa Isabel, era a única entrada para a Vila. Somente em 1930,  quando governo construiu uma estrada, que ligaria a capital até a cidade de Castelo, passando pela vila foi construído duas pontes. Uma sobre o rio, outra a poucos metros, conhecida como ponte seca. No período de enchente o rio transbordava e passava por esta ponte.  Local desta ponte    hoje, situada onde existe a de cimento. O construtor destas pontes, o foi italiano Anselmo Maculan. Voltando para primeira ponte, temos documentos que mesma sempre teve problemas com enchentes  e falta de manutenção. Maria Lübe esposa do Alcides Endlich relatou que sua sogra Luiza Kuster “ Meu sogro construiu um armazém na margem direita, devido a ponte não ter sustentação para passagem de animal carregando café”. O sogro de Luiza era o comerciante Philipp Endlich.  João Kuster  filho do suíço Jacob Kuster relatou “ a ponte era muito frágil, havia uma balsa de troncos madeira, para utilizar quando havia excesso de peso”. Emilio Gustavo Hülle e seu irmão August Heinrich relataram”. Uma vez por mês nos tínhamos de passar nesta ponte. Fazíamos catecismo em Campinho. Nosso pai sempre orientava sobre esta passagem. Em 1920 a passagem era extremamente perigosa”. Na enchente de 1960, tiveram que amarrar com cabo de aço. Só assim a ponte não foi embora. Em 1970,  ainda era uma pinguela. Jair Littig. 
               
Acima:  armazém da família Endlich, mais tarde transformado em residência. A casa foi demolida em 1962, com a construção da  BR 262. A esquerda Maria de Lourdes Lübe – 2009; Fotos acervo Jair Littig


Continua [ ... ]




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